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sábado, 26 de janeiro de 2013

PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL


FIGURA: Colocação de "pingadeiras" para que a água da chuva não danifique as pinturas rupestres.

Os sítios com pinturas rupestres do Parque Nacional Serra da Capivara, como toda obra de arte exposta ao ar livre, encontram-se em permanente processo de degradação.
Em alguns sítios, determinados fatores naturais ou antrópicos agem, acelerando a degradação da rocha ou das pinturas. É preciso, então, encontrar meios de neutralizar a ação destes agentes destruidores para que se possa prolongar por muito tempo a vida destes insubstituíveis documentos pré-históricos.
Os pigmentos das pinturas são elementos minerais, similares às rochas, por isso persistem até hoje. Só que estes elementos também passam por processos de degradação natural provocados, sobretudo, pela ação da água que, em geral, quando passa, arrasta parte dessas substâncias.
Alguns insetos (vespas, marimbondos, cupins), microorganismos e vegetais também provocam a destruição de sítios com pinturas. Os insetos constroem ninhos muitas vezes sobre as pinturas. Esses ninhos são feitos com argila, restos vegetais e saliva animal. Com o passar do tempo esses ninhos petrificam e recobrem definitivamente painéis com pinturas.
O problema mais intenso e mais grave de destruição, atinge o próprio suporte rochoso. A rocha é de tipo sedimentar formada de um arenito muito poroso e cimentada com uma matriz feldspática- quartzítica. Ela desagrega-se muito facilmente com a ação da água, vento e variações bruscas de temperatura, típicas de clima semi-árido: um sol escaldante ao meio-dia com temperaturas de até 48 graus e noites frescas com temperaturas variando entre 15-20 graus.
O fogo também provoca o superaquecimento da rocha e, como conseqüência, o aparecimento de rachaduras que ocasionam futuras quedas de placas.
As plantas, quando tocam a parede rochosa, também são prejudiciais à preservação dos sítios. Elas podem destruir a rocha através de substâncias químicas por elas produzidas como certas resinas ou, então, por reterem umidade e assim favorecerem o desenvolvimento de microorganismos (fungos, algas, bactérias, líquens). Além disso, o desenvolvimento das raízes no interior da rocha, provoca rachaduras, fazendo cair placas que têm pinturas.
A vegetação baixa, de tipo capoeira, que se encontra em geral na entrada dos abrigos, é a maior responsável pelo alastramento de incêndios nos sítios. E, sobretudo, por aproximar o fogo das áreas com pintura. A ação do fogo além de provocar um superaquecimento da rocha, também recobre a superfície pintada com fumaça.
O trabalho de proteção dos sítios de pinturas rupestres do Parque Nacional Serra da Capivara é feito em três etapas diferentes. O primeiro consta do levantamento e da identificação dos problemas de conservação presentes em cada sítio. Este trabalho é feito com a colaboração de diferentes especialistas (químicos, geólogos, microbiólogos, biólogos, botânicos). Cada sítio deve ser estudado separadamente, pois os tipos de problemas são muito específicos e próprios dos locais considerados. A segunda etapa é o trabalho de intervenção. Isto significa a realização de ações no sentido de neutralizar os agentes destruidores. A terceira etapa do trabalho de conservação é a pesquisa sistemática. Todas as ações realizadas são verificadas periódicamente para se avaliar os resultados obtidos. Estudos são feitos para complementar diagnósticos ou para solucionar novos problemas. Esses estudos são feitos por especialistas.
Este trabalho de acompanhamento contínuo do avanço do estado de deterioração do Patrimônio Cultural do Parque Nacional Serra da Capivara deveria ser praticado idealmente para a totalidade dos sítios, todavia, do ponto de vista prático isso se torna, atualmente, inviável, em decorrência do grande número de sítios e dos altos custos. Portanto é feita uma seleção priorizando os que correm maior perigo.
A situação dos sítios de arte rupestre do Parque Nacional Serra da Capivara seria bem diferente se não houvesse uma destruição acelerada do patrimônio natural. A preservação dos sítios com pinturas depende diretamente da preservação da fauna e flora da região. A maioria dos agentes causadores da destruição dos sítios é conseqüência de um desequílibrio ecológico com quebra da cadeia alimentar. O caso dos cupins ilustra bem esta situação. A caça desordenada de animais (tamanduá, tatu) que se alimentam de cupim fez com que houvesse um aumento considerável destes, que hoje constroem suas galerias sobre pinturas. Os desmatamentos e queimadas provocaram o desaparecimento de espécies nativas que protegiam a rocha da incidência solar e, hoje, em seu lugar, brotam apenas as plantas baixas, tipo capoeira.
A Fundação Museu do Homem Americano promove, periódicamente, a vinda de grandes especialistas internacionais, para que analisem os principais problemas dos sítios rupestres. Este foi o último relatório, apresentado por pesquisadores do Ministério da Cultura, da França.

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